Diversidade no mundo do trabalho: do discurso à prática cotidiana
Diversidade é um tema que tem ganhado cada vez mais espaço e notoriedade na sociedade. A começar pela esfera social, onde as discussões sobre gênero, orientação sexual, etnia, crenças religiosas e políticas permeiam desde conversas entre amigos até programas de televisão e propostas de política pública. Entendamos diversidade como a liberdade e possibilidade de cada pessoa existir de forma plena e a capacidade coletiva de convivermos respeitosamente com o diferente, sabendo lidar de maneira não-violenta com os conflitos inerentes ao choque de valores e visões nesse convívio.
Nas empresas esse tema também tem ganhado cada vez mais projeção e influenciado resultados. Tomemos como exemplo o estudo intitulado Delivering through diversity realizado em 2018 pela consultoria McKinsey and Co. em 12 países e com mais de mil empresas ao redor do mundo. O estudo mostra que as empresas com times de executivos com maior variedade de perfis são mais lucrativas. Aquelas com maior diversidade de gênero da amostra (no quartil superior) têm 21% mais de chances de apresentar resultados acima da média do mercado do que as com menor diversidade do grupo. E, quando falamos de diversidade étnica e cultural, esse número sobe para 33%.
Esses dados levantados pela McKinsey são louváveis e necessários. Quanto maior a representatividade e diversidade em posições executivas, maior a possibilidade de isso reverberar para os demais níveis da empresa. Porém a métrica financeira e o número de pessoas que destoam do mainstream corporativo (homem, heterossexual, branco) não podem ser as únicas para compreendermos se a diversidade está de fato sendo experimentada como parte do tecido social da empresa. E, para isso, gostaria de ampliar o conceito de diversidade para além da nossa capacidade de acolher e lidar com as diferentes pessoas que nos rodeiam. Gostaria de convidar você a enxergá-la também como a capacidade de acolher todas as partes de nosso ser, inclusive as que não gostamos.
Pare e olhe um pouco para si. Reflita por alguns minutos sobre a experiência de ser você. Como você se reconhece boa parte do tempo, enquanto profissional? Uma pessoa comprometida? Que não perde nenhum detalhe? Alguém que pensa duas vezes antes de agir? Que sabe agir sob pressão?
E quando você faz diferente daquilo que reconhece como 'eu', diferente de suas expectativas? Se considera inadequado e se culpa por ter agido diferente? Pensa que está errado e deveria voltar para o 'jeito certo' de fazer as coisas?
Temos um pensamento cartesiano que nos divide internamente no certo e no errado e, muitas vezes, nos recrimina por escolhas que fazemos. Assim, deixamos de lado a ideia de que somos seres inteiros e marginalizamos as partes que não gostamos ou que não estão de acordo com o padrão social. Sim, marginalizar. Colocar pra margem e deixar longe do centro, da vida. Tornar menos importante que outros aspectos que gostamos e/ou são mais aceitos socialmente.
Se no ambiente de trabalho é importante organização e ordem, recrimino e reprimo, quando surge, meu lado desorganizado e espontâneo. Se no ambiente de trabalho é importante flexibilidade, faço o mesmo com meu lado mais pragmático. Uma coisa parece não poder existir junto da outra.
Assim seguimos a vida, inconscientemente, marginalizando a nós mesmos. E se temos esse padrão em relação a nosso mundo interno, o que será que estamos transbordando para fora?
Intolerância. A marginalização de nossas partes que não gostamos reflete também na marginalização daquilo com que não concordamos ou não gostamos no outro. Se está de acordo, está somando. Se é diferente, está contra. E quanto mais a existência e o comportamento do outro são desafiadores ao nosso sistema de crenças e valores, àquilo que levamos como verdade, maior a probabilidade de sermos intolerantes.
Para criarmos ambientes de trabalho mais harmoniosos e emocionalmente saudáveis é importante um olhar para o indivíduo, antes de tudo. Que cada pessoa dentro da organização compreenda um pouco mais de si e acesse esse lugar de autocompaixão e autoempatia. Que cultivemos a compreensão de que somos a soma de todas as nossas partes, ainda que não gostemos de tudo que vemos.
Quando criamos espaço para acolhimento interno, também começa a existir espaço para acolher mais o que está fora. Nessa hora, talvez a experiência de conviver com pessoas que pensam e agem diferente de nós se torne mais possível. E quem sabe seja possível viver mais plenamente a diversidade que estampa as declarações e políticas das instituições, percebendo que, para a diversidade existir de fato, ela precisa estar estampada no DNA da organização. Lembrando que esse DNA são as pessoas que dela fazem parte.
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