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Sérgio Luciano

Já dizia Einstein...

ECOA

13/11/2019 09h33

Em 1946, o The New York Times Magazine publicou uma entrevista realizada com Albert Einstein em que ele fala sobre o advento da bomba atômica e suas implicações na sociedade e em nossa evolução. Destaco o começo da entrevista:

"Muitas pessoas perguntaram sobre uma recente mensagem minha que 'um novo tipo de pensamento é essencial para que a humanidade sobreviva e se mova para níveis mais altos'.

Frequentemente, nos processos evolutivos, uma espécie deve se adaptar a novas condições para sobreviver. Hoje, a bomba atômica alterou profundamente a natureza do mundo como a conhecemos, e a raça humana se encontra em um novo habitat ao qual deve adaptar seu pensamento."

Estas palavras de Einstein são atemporais. Nem um século se passou e já estamos em um habitat totalmente diferente do qual ele falava em 1946. Ainda hoje, suas palavras são um convite para continuarmos repensando a forma como nos organizamos coletivamente. Isso inclui repensar o papel das organizações na sociedade.

Desde a bomba atômica, uma infinidade de tecnologias e descobertas científicas surgiram, contribuindo para um habitat em constante transformação. Enquanto nós, a passos muito mais lentos, vamos transformando nossa forma de pensar. Se por um lado temos a ciência e tecnologia capazes de apoiar a construção de uma sociedade mais justa e que valorize a equidade, por outro temos ainda a tendência de sempre buscar o benefício próprio em primeiro lugar, contribuindo para continuidade de estruturas de poder e dominação, e manutenção de privilégios de poucos em detrimento do bem-estar de muitos.

Na parte final da entrevista, Einstein fala sobre o planejamento de segurança mundial em relação à bomba atômica:

"A ciência trouxe esse perigo, mas o verdadeiro problema está na mente e no coração dos homens. Não mudaremos os corações ou outros homens por mecanismo, mas mudando nossos corações e falando corajosamente. […]

[…] Quando tivermos clareza de coração e mente – somente então encontraremos coragem para superar o medo que assombra nosso mundo."

Esse trecho me lembra da importância da transformação das crenças coletivas que temos. Se por um lado é importante criar mecanismos institucionais para cada vez mais garantir o bem-estar de todas e todos, por outro lado é preciso também falarmos sobre uma mudança de visão de mundo de dualidade e medo para integração e confiança. E as organizações têm papel fundamental nessa mudança.

Pessoas passam, pelo menos, oito horas do seu dia dentro de uma organização. Ali, elas estão constantemente sob a influência de uma política institucional. Portanto, a forma como uma organização pauta e vivencia seus valores pode, diretamente, contribuir para a experimentação de novos valores por parte de seus colaboradores. Organizações não têm apenas o papel de agentes de remuneração financeira para seus acionistas e dirigentes, mas também o de agentes de transformação modelando como nos relacionamos enquanto sociedade.

Para apoiar essa transformação, felizmente, existem pessoas dedicadas a vislumbrar e falar corajosamente sobre um futuro mais colaborativo e inclusivo, capazes de superar os medos que assombram nosso mundo.

Dentre as pessoas que tem me inspirado, deixo contigo a indicação de quatro livros que acredito serem fundamentais para pensarmos organizações como agentes de transformação.

Reinventando as organizações: Frederic Laloux mostra que, ao longo da história, toda vez que a humanidade muda para um novo estágio de consciência, uma maneira jamais vista para estruturar e gerenciar organizações também é desenvolvida, com avanços extraordinários em colaboração. E com uma nova mudança na consciência em curso nos dias atuais, ele investiga organizações ao redor do mundo que já estão operando neste novo paradigma.

Comunicação não-violenta: por um lado, Marshall Rosenberg traz um conjunto de princípios que apoiam viver uma vida repleta de compaixão, colaboração, coragem e autenticidade, partindo da presunção que todas e todos somos seres compassivos por natureza. Por outro, ele decodifica uma linguagem que nos ajuda a compreender como as palavras contribuem para conexão ou distanciamento, apoiando uma comunicação mais assertiva e mais possibilidades de resolução de conflitos.

The Deep Democracy of Open Forums: Arnold Mindell diz que para organizações, comunidades e nações terem sucesso e sobreviverem, elas devem ser "profundamente democráticas", que significa que todas e todos, e todo sentimento, devem ser representados. Democracia profunda é a consciência da diversidade de pessoas, papéis e sentimentos, e uma atitude de anfitriar bem tudo que bater à porta.

Macrowikinomics: Don Tapscott e Anthony D. Williams mostram que em muitas áreas – finanças, assistência médica, ciências, educação, mídia e meio ambiente – alcançamos um ponto de inflexão histórico: empacar nos velhos paradigmas da era industrial ou explorar a inovação colaborativa para revolucionar as formas como trabalhamos, vivemos, aprendemos, criamos, governamos e cuidamos uns dos outros.

E se ficou curiosa, clique aqui para ler a entrevista completa de Einstein.

Sobre o autor

Sérgio Luciano é empreendedor e atua com a promoção da empatia e diversidade como caminho para a construção de relações mais saudáveis. Intrigado pela complexidade das relações de poder e privilégio numa sociedade, tem se aprofundado nesse tema pelo olhar Processwork, uma abordagem terapêutica derivada da psicologia junguiana voltada para mediação de conflitos, facilitação de grupos e autoconhecimento. Também é especialista em comunicação não-violenta e atende organizações e pessoas físicas no Brasil e no exterior.

Sobre o blog

Criar condições para um mundo mais humano e acolhedor para todas e todos passa também por ressignificar as relações no ambiente de trabalho e entre organizações e sociedade, buscando novas formas de produzir e se relacionar. Às vezes essas novas possibilidades são desafiadoras às nossas crenças e ao sistema atual, mas nem de longe são impossíveis. Tudo começa a partir da escolha individual de mudar hábitos, visões de mundo e comportamentos.