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Sérgio Luciano

Oito armadilhas comuns de se cair em posição de liderança; e como evitá-las

ECOA

20/11/2019 00h04

Recentemente escrevi aqui no blog sobre poder e responsabilidade na liderança. E, ainda que pareça óbvio que a posição de liderança que assumimos é para ser usada a serviço da organização e não em benefício próprio, nem sempre isso acontece. Algumas vezes, inclusive, esse uso inadequado do poder acontece de forma inconsciente, guiado por nossas crenças, medos e vícios de comportamento.

Para exercermos uma liderança com responsabilidade e orientada a seu propósito, a autoconsciência tem um papel fundamental. E para apoiar nesse caminho de autoconsciência, nesta e nas próximas duas postagens, falaremos sobre algumas armadilhas sutis nas quais podemos cair quando estamos numa posição de liderança.

  1. Usar o poder antes de merecê-lo

Toda posição de liderança que assumimos tem consigo a capacidade de influenciar pessoas dentro de uma organização, que podemos chamar de autoridade. Porém essa autoridade passa a ser reconhecida e respeitada apenas quando temos a confiança das pessoas que se relacionam conosco. Assim, obtemos legitimidade.

Em alguns momentos, por conta da pressão, ansiedade ou necessidade de aceitação, pode ser que nos adiantemos em agir antes de ganhar a confiança daqueles com quem nos relacionamos, nos valendo, talvez, da coerção como estratégia para obtermos cooperação. Quando isso acontece, existe um grande risco de um impacto indesejado nas pessoas e redução da autoridade que temos diante delas. 

Dicas para cultivar legitimidade:

  • Crie relações com as pessoas em vez de tratá-las apenas como engrenagens de um sistema;
  • Invista tempo e energia na criação de um espaço de expressão emocionalmente seguro para todas e todos;
  • Comunique suas ideias com clareza e contextualize-as, trazendo mais compreensão para suas motivações;
  • Peça feedbacks explicitamente sobre suas ideias, reforçando sempre a importância de todas as vozes serem ouvidas.
  1. Fugir da autoridade

Buscando não fazer um mau uso do poder, deixamos de tomar uma posição ou fazer escolhas difíceis. Entramos num debate infinito de ideias, sem tomar uma decisão, evitando sermos opressores ou limitarmos a criatividade dos envolvidos. Fugimos de conversas difíceis. Deixamos de responsabilizar pessoas por suas ações e lhes tiramos possibilidades de aprendizado.

Como resultado, criamos apenas caos e confusão. As pessoas tendem a ficar perdidas e sem saber com clareza as expectativas em relação a elas, correndo também o risco de se tornarem desmotivadas e desengajadas.

Dicas para abraçar a autoridade e exercê-la de forma consciente:

  • Descubra e trabalhe seus medos, investindo em seu autodesenvolvimento;
  • Estude comunicação não violenta e aprenda a melhor escutar seus sentimentos e necessidades e também de outras pessoas;
  • Desconstrua a ideia de que precisamos "ser perfeitos" o tempo todo. Exercite a vulnerabilidade, fale de sua dificuldade e crie um ambiente de mais humanidade.
  1. Usar muita munição

Às vezes nos identificamos como a parte mais fraca de uma relação. Nesse momento, surge o risco de já iniciarmos um encontro convencidos de que não conseguiremos transmitir nosso ponto de vista e nos preparamos para uma destas três reações: fugir da situação, entrar na defensiva ou atacar.

Toda colocação de outras pessoas soa como uma crítica ou desafio a nós. Criamos figuras de inimigo por onde passamos, como forma de justificar essa percepção que temos. Sem percebermos, desencadeamos conflitos por onde passamos.

Dicas para te trazer mais equilíbrio:

  • Identifique características que você percebe existir em outras pessoas e que contribuem para você se enxergar com menos poder na relação. Então, pergunte-se como você pode cultivar mais estas características em seu cotidiano;
  • Pratique respiração consciente. O simples exercício de fazer inspirações curtas e expirações lentas tem o enorme poder de oxigenar a mente e acalmar o coração. 

Se você olhou para suas experiências e percebeu que já caiu em alguma destas armadilhas, celebre. Isso mesmo, celebre! Reconhecê-las é um ótimo primeiro passo para adotar novos hábitos e fazer novas escolhas.

Te espero na próxima postagem para continuarmos essa conversa!

Sobre o autor

Sérgio Luciano é empreendedor e atua com a promoção da empatia e diversidade como caminho para a construção de relações mais saudáveis. Intrigado pela complexidade das relações de poder e privilégio numa sociedade, tem se aprofundado nesse tema pelo olhar Processwork, uma abordagem terapêutica derivada da psicologia junguiana voltada para mediação de conflitos, facilitação de grupos e autoconhecimento. Também é especialista em comunicação não-violenta e atende organizações e pessoas físicas no Brasil e no exterior.

Sobre o blog

Criar condições para um mundo mais humano e acolhedor para todas e todos passa também por ressignificar as relações no ambiente de trabalho e entre organizações e sociedade, buscando novas formas de produzir e se relacionar. Às vezes essas novas possibilidades são desafiadoras às nossas crenças e ao sistema atual, mas nem de longe são impossíveis. Tudo começa a partir da escolha individual de mudar hábitos, visões de mundo e comportamentos.