Acolhimento como estratégia de negócio
Empresas buscam cotidianamente estratégias para serem cada vez mais eficientes e eficazes, com a intenção de continuarem atingindo seu propósito e se manterem lucrativas. Porém, será que as estratégias adotadas de fato contribuem para um resultado sustentável?
Aprendemos no século 21 a exercer com maestria programas de motivação baseados em bônus, metas e resultados. Geramos engajamento nas equipes através da competição, premiando e destacando os melhores. Note que melhor, nestes casos, significa que a pessoa rendeu acima das expectativas, deu sangue pela empresa, deu mais resultado financeiro. E qual custo destas ações?
Os transtornos mentais e emocionais são a segunda causa de afastamento do trabalho. De acordo com pesquisas dos Isma-BR, representante brasileiro da International Stress Management Association, nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apresentam sintomas de ansiedade, de grau mais leve a incapacitante. Destes, 47% sofrem de algum nível de depressão.
Por isso, antes de falarmos sobre motivação, criação de espaços de trabalho 'cool', programas de benefícios, precisamos falar sobre saúde mental e emocional. Precisamos de ambientes de segurança psicológica, antes de tudo. Se não mudamos a mentalidade, iremos continuar rumo a uma sociedade cada vez mais próspera financeiramente e doente emocionalmente.
Segundo pesquisas realizadas por Paul Zak, expert em neurociência e neuroeconomia, publicadas na revista Harvard Business Review, os funcionários são 50% mais produtivos, 74% menos estressados e 76% mais engajados nas empresas que fomentam uma relação de confiança entre eles. Ou seja: a criação de um ambiente de segurança psicológica contribui não apenas com o clima organizacional e com o bem-estar de seus funcionários, mas também na imagem e resultado financeiro de toda a organização.
Inclusive, foi realizada uma extensa pesquisa na Google para descobrir o que diferenciava as equipes mais efetivas das demais. Descobriram que o principal diferencial é ter 'segurança psicológica'. Em resumo: "Nas melhores equipes, os membros se escutam e mostram sensibilidade e abertura para sentimentos e necessidades uns dos outros". Em outras palavras, acolhimento.
E para sermos mais acolhedores, conosco e, consequentemente, com os outros, deixo dois convites:
O primeiro, é valorizar e falar sobre vulnerabilidade. Vivemos numa cultura onde se mostrar forte (ainda que em pedaços por dentro) é supervalorizado e demonstrar vulnerabilidade, expressando que algo não está bem, é fraqueza. Porém, ser vulnerável é exatamente o oposto de fraqueza. É preciso coragem para se mostrar inteiro e tirar as máscaras das aparências. E quanto mais aceitamos e expressamos a nossa vulnerabilidade, mais damos ao outro o direito de expressá-la.
O segundo, é deixar de lado a ideia de perfeição. A cobrança por tudo estar certo e perfeito nos leva a um autoflagelo quando algo sai diferente do esperado, que se reflete também na culpabilização do outro quando comete algum erro. Quanto mais gentis e compassivos somos com nós mesmos, mais seremos também com os outros. E ao transformar a culpa em responsabilidade e aprendizado, podemos olhar para os erros como possibilidades de crescimento.
Semear e cultivar acolhimento para colher melhores resultados organizacionais e mais saúde para todos. Parece uma boa relação de ganha-ganha. Então, o que falta para fazermos mais disso?
Talvez, o primeiro passo seja aprendermos a nos acolher. Afinal, o mundo se constrói de dentro pra fora.
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