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Desembrulhando o presente: como dar e receber elogios empaticamente

ECOA

25/12/2019 04h00

Tempos atrás, eu e minha companheira estávamos facilitando um curso de final de semana, voltado para a prática e integração de uma comunicação mais consciente e empática.

Durante uma roda de partilha sobre elogios, uma das participantes contou a experiência que teve quando acompanhou seu filho num evento da empresa onde ele fazia estágio, percebendo que várias pessoas se aproximavam de seu filho e diziam o quanto ele era importante para empresa.

Que bacana, né! Quem não gosta de escutar que é importante? Reconhecimento é algo fundamental para que mantenhamos o nosso bem-estar. Inclusive, no trabalho.

Agora, imagine que cada elogio recebido por este jovem é um presente. Presentes de diferentes pesos e formas, de diferentes pessoas. Ao final do encontro, ele volta pra casa com dezenas de presentes que lhe enchem os olhos e aquecem o coração.

"Você é importante para essa empresa!"

"Você é um ótimo profissional."

"Você é um jovem de talento, tem futuro!"

"Essa empresa precisa de mais pessoas como você."

Continue preenchendo essa lista aí com outros presentes (elogios) que você já deu ou recebeu.

Cada um destes presentes está embrulhado num lindo papel. E a pessoa que recebe algum destes elogios não sabe com o que está sendo presenteado. Ela pode apenas imaginar. Supor. Como uma criança olhando para aqueles diversos presentes abaixo da árvore de Natal, que cria 1001 histórias sobre o que podem ser, a partir daquilo que gostaria de receber.

Por mais gostoso que seja receber estes presentes todos, a gente nunca vai saber o que são até que sejam desembrulhados. E quando falamos de elogios, somente quem os faz tem esse poder de desembrulhar e contar o que está por baixo desse lindo papel que os embalam.

Tá, mas como eu desembrulho meus elogios?

Voltemos ao exemplo do jovem estagiário. Imagina que você é o gestor dele e diz: "Você é um ótimo profissional".  Para desembrulhar estes elogios, responda a si mesmo algumas perguntas. 

  1. Qual ou quais ações ele teve que te levaram a pensar que ele é um ótimo profissional?
  2. Como você se sente em relação a esta ou estas ações que ele teve?
  3. O que é importante para você (ou para a empresa) que foi cuidado por meio desta ou destas ações?

"Fulano, te acho um ótimo profissional. Vi que desde o começo do ano tem entregado os relatórios dois dias antes do prazo. Assim, tenho tempo para verificar e corrigir algo se for necessário. E ainda vi que suas horas extras estão abaixo da média da empresa, o que pra mim demonstra uma eficiência exemplar."

Você não precisa parar de usar os rótulos e adjetivos que usa. Longe de mim querer definir que isso é errado. Porém, acho importante perceber que ainda que tenhamos clareza do que nossos rótulos querem dizer (por exemplo, ser um ótimo profissional), os outros não tem.

E se queremos ofertar esse elogio como um presente especial, nomear os fatos por trás destes rótulos e como contribuem para nosso bem-estar e o bom funcionamento da empresa, irá torná-lo mais palpável e visível. Desta forma, a pessoa saberá exatamente quais ações dela são valorizadas. Às vezes, estimulando-a para continuar agindo assim.

E quando alguém me dá um presente embrulhado?

Bom, aí a gente pode sempre usar nossa curiosidade de criança para investigar:

"Caramba, que legal que você me acha um ótimo profissional. Fiquei curioso para saber o que te levou a pensar isso sobre mim. Tem alguma atitude ou fala minha, que te trouxe essa percepção?"

Esta prática de desembrulhar presentes é uma forma bacana de sair do piloto automático e criar mais conexão no ambiente de trabalho. E quem sabe essa seja também uma maneira diferenciada de dar um feedback para as pessoas que trabalham com você?

E como este esse texto provavelmente será publicado no Natal, deixo um presente para a Laura, companheira de vida e trabalho, que inspirou essa publicação:

"Você é incrível!"

Ou… melhor dizendo…

"Quando você, no dia do curso, veio toda brincante contar para as pessoas sobre a importância de desembrulhar os presentes que oferecemos, me senti muito admirado. Como o tema era algo fora do planejado e surgiu de acordo com o que percebemos no grupo, me encantei com sua escolha de como abordá-lo. Achei você incrível!"

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Sobre o autor

Sérgio Luciano é empreendedor e atua com a promoção da empatia e diversidade como caminho para a construção de relações mais saudáveis. Intrigado pela complexidade das relações de poder e privilégio numa sociedade, tem se aprofundado nesse tema pelo olhar Processwork, uma abordagem terapêutica derivada da psicologia junguiana voltada para mediação de conflitos, facilitação de grupos e autoconhecimento. Também é especialista em comunicação não-violenta e atende organizações e pessoas físicas no Brasil e no exterior.

Sobre o blog

Criar condições para um mundo mais humano e acolhedor para todas e todos passa também por ressignificar as relações no ambiente de trabalho e entre organizações e sociedade, buscando novas formas de produzir e se relacionar. Às vezes essas novas possibilidades são desafiadoras às nossas crenças e ao sistema atual, mas nem de longe são impossíveis. Tudo começa a partir da escolha individual de mudar hábitos, visões de mundo e comportamentos.


Sérgio Luciano